sábado, 6 de março de 2010

Humanidade: raça prodigiosa

À luz do teatro do absurdo.


Acho que não estamos bem certos sobre o que é a humanidade. Podemos crer que a literatura constata essa desilusão, esse desconhecimento da nossa identidade.

A era do mal do século é a perfeita referência que encontramos e que se estende no hoje através de nossa crise interior. Em sua “Glória Moribunda” nos enxergamos em seres que vibram a própria miséria e amargura. Uma porca miséria! Nunca a entenderemos. É escatológico, é brutal, cruel. Procuramos fortaleza em nós mesmos, mendigamos por respostas onde o vazio habita. Será que nosso grito pode ser tão primordial a ponto de calarmos a devastação, toda a crise que esvazia nossos sentidos?

Ridícula é a humanidade! E ainda bem que existiram (e existe) grandes pensadores (Becket, Ionesco, Arrabal)que souberam expressar a verdadeira consequência dos artifícios do homem em crise : o total desprezo pela lógica. Se eles conseguiram tal feitio foi porque se utilizaram do irracional (ou o que julgaram racional, o que na verdade não era) para tornar à luz o que nos é oculto. Muito da essência do teatro contemporâneo bebe dessa sabedoria e a sua literatura é absurda.

As técnicas dadaístas e surrealistas prezam pela “estranheza” expressiva e pela mostra do onírico, ou pelo que chamavam de “automatismo psíquico”. As técnicas do teatro do absurdo trazem à tona um pouco do dadaísmo e do surrealismo, juntamente a todo desatino das relações pessoais e o ridículo que há no homem. Pois, “o maior delito do homem é o de haver nascido”: são palavras de Samuel Becket (Esperando Godot), um dos maiores dramaturgos dessa corrente. É por isso que, de modo grosseiro, a existência do homem se resume aos problemas. Nossa existência é amarga, uma vez que somos a incerteza e vivemos estressados por não entendermos a ciência da vida, dos problemas. Inúteis!

Posso ver uma humanidade agoniada, depressiva e acuada no tempo e no espaço, sem sequer resolver-se por si. Não sabemos de fato onde estamos. Desconhecemos nossos passos e os rastros são confusos. Voltamos ao mal do século. A inutilidade habita em nós. Será que esse é o nosso único prodígio, reconhecer que somos hostis e que nada sabemos?