terça-feira, 13 de julho de 2010

Entre existencialismos e moléculas

As múltiplas ações ou comportamentos humanos e toda incerteza que os cerca, isto é, a relação instável entre o “vir a ser” e a consciência humana, a princípio poderia ser determinada basicamente e superficialmente pelas teorias sociológicas. O senso comum não estabelece uma engrenagem consistente que nos faça compreender a relação entre a capacidade de tomar uma decisão e os mecanismos orgânicos microscópicos, ou todas as reações dos processos celulares. O que pode tornar a discussão sobre essa relação mais compreensiva é o que a física quântica afirma sobre as possibilidades no espaço-tempo.

De maneira simples, posso dizer que esse fato é uma constante na natureza. Como não tenho os conhecimentos necessários em física quântica, julgo-me apenas como uma curiosa no assunto. Primeiramente, podíamos nos perguntar como a física quântica pode explicar a nossa consciência ou os nossos atos. Pois bem. O que seria real? Quais as possibilidades que o real nos oferece? Podemos considerar que este “real” é justamente o que podemos enxergar ou o que está dentro de nosso campo de ação/relacionamento. Desta forma, dizemos seguramente que dominamos o nosso real. Baseando-me, então, no que diz o filme Quem Somos Nós - no qual se tece uma verdadeira desconstrução sobre a nossa realidade, o nosso mundo - a nossa realidade, a que percebemos, é tão limitada, quanto é grandioso o que a ciência julga ser o seu o realismo.

"Um realismo científico baseado no mecanismo conjuga-se com uma crença estável no mundo dos homens e dos animais superiores como constituídos de organismos autodeterminados. Essa incompatibilidade radical na base do pensamento moderno responde, em grande parte pelo que há de dúbio e instável em nossa civilização" (WHITEHEAD, 2006: 100).

Inicialmente contraditória, podemos pensar que a idéia da existência de uma partícula (podemos nos considerar esta partícula?) em mais de um espaço e num mesmo intervalo de tempo se torna viável, se pensarmos que qualquer movimento se realiza de forma microscópica e por partes, “quadro por quadro”. Se pudéssemos nos colocar em “câmera lenta”, veríamos que a nossa matéria se multiplica num mesmo segundo. É um exemplo que nos reporta às possibilidades do real. Portanto, aquilo que não está em nosso campo de visão também é tão real quanto o seu por vir, a sua potência em ato, como já dizia Aristóteles. Constatamos que, conforme essa teoria molecular das partículas da matéria - nós enquanto matéria -, o real é muito mais do que o que o limitamos ser. Ele não é apenas o que nos está externo, mas o que nos é interno aos nossos mecanismos biológicos e mentais. A sua abrangência é invisível, por vezes, inimaginável.

Assim mesmo para a vida: as suas possibilidades, as chances que obtemos para nos construirmos enquanto seres humanos mais equilibrados, mais concentrados em nossas mentes e na força que possuímos, fazem-nos entender a grandiosidade da nossa natureza. Segundo Quem Somos Nós e para quem quiser assim se considerar, somos quase que deuses de nós mesmos. Assim, atores responsáveis pelo que acontece e o que se projeta a nós. Se estivermos cientes disso, o princípio existencialista que trazemos conosco é que, se porventura sofremos, ou não sabemos lidar com tantas incertezas, não soubemos utilizar a nossa potência, a capacidade de controle do mundo ao nosso favor. A idéia é basicamente esta. Portanto, são sempre válidos os questionamentos sobre a nossa origem, o nosso poder, a crise a qual nos encontramos, uma vez que podemos interligar essas dúvidas ao julgo de nossa força mental. Nada além de nosso pensamento para “revolucionar” o nosso particular, o nosso universo. Eu diria que é um verdadeiro panteísmo para com o saber e o poder.

O que pensamos, sentimos. Os mecanismos cerebrais acionam nossos pensamentos, que por sua vez acionam nossos sentidos: uma entropia molecular, um verdadeiro caos. É por meio desse caos que os fenômenos acontecem. Ou seja, do ponto de vista científico, “a ordem é redundante, enquanto o caos é informativo”¹ . E nas palavras de Edgar Morin² ,

"[…] cada vida é tecida dessa forma, sempre com um fio de acaso misturado com o fio da necessidade. Sendo assim, não são fórmulas matemáticas que vão dizer-nos o que é uma vida humana, não são aspectos exteriores sociológicos que a vão encerrar no seu determinismo" (MORIN, s/d).

Ademais, existem alguns esclarecimentos (ou confusões) sobre o que podemos chamar de adaptação biológica. Como nos adaptamos a determinadas situações, ou como o nosso corpo reage a elas. A distância que possa existir entre a fantasia e o que vivemos é apenas um estímulo em nosso corpo. Isto que dizer que, grosseiramente falando, somos os mesmos, com os mesmos estímulos (com umas “pitadas” de condicionamentos culturais, é claro). Em virtude de reagirmos, como defesa, a qualquer experiência desconhecida, podemos pensar o quanto nós nos assustamos, se temos um pesadelo, ou o quanto nos deleitamos, se simplesmente pensamos em algo prazeroso. É tudo uma questão de costume ou adaptação da mente e do corpo às nossas ações.

É, pois, importante que pensemos no que a consciência pode gerar. Os pensamentos que nos norteiam podem ser tão favoráveis à construção das relações sociais, quanto o funcionamento do nosso organismo o é. Podemos sustentar, veementemente, que o otimismo é a chave para o nosso equilíbrio e desenvolvimento mental.


¹-DANTON, Gian. A teoria do Caos. s/d. em http://www.alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br/artigos20.htm

²-www.mundocultural.com.br/artigos/Colunista.asp?artigo=763

Referências:

• DANTON, Gian. A teoria do Caos. s/d. em http://www.alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br/artigos20.htm
• Filme: Quem somos nós?(William Arntz , Betsy Chasse , Mark Vicente, 2005/ EUA)
• PESSOA JR, Oswaldo. A Física Quântica seria necessária para explicar a Consciência?. s/d em http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/Cons.pdf
• WHITEHEAD, Alfred North. “A ciência e o mundo moderno”. São Paulo: Paulus, 2006. p. 100. In PIMENTEL, Ronaldo e OLIVEIRA, Tiago. Argumentos popperianos em favor do indeterminismo científico. s/d. em http://www.consciencia.org/argumentos-popperianos-$em-favor-do-indeterminismo-cientifico