quarta-feira, 9 de março de 2011

Os pólos da cultura de massa: algumas considerações

A cultura é uma manifestação híbrida. É a partir dessa visão que Umberto Eco definiu em seu livro Apocalípticos e Integrados os dois termos genéricos para ressaltar os efeitos da discussão em torno da “cultura de massa” e da indústria cultural. Ao demonstrar que existem diferentes visões da cultura, dois lados para compreendê-la, dizemos que existem os que acreditam que a cultura popular ou de massa é uma anticultura e os que defendem que na verdade ocorre um crescimento desse fenômeno cultural, uma ampliação, um enriquecimento cultural. Desta forma é que surgem os termos acima, haja vista sua grande discussão.

Apocalípticos seriam os que conhecem e aceitam a cultura em sua forma pura e dissociável da popular. Os integrados seriam os que pertecem e defendem uma forma mais democrática dessa cultura.

Mesmo quase diante dessa disputa teórica, não há o que negar: a cultura popular foi muito valorizada, principalmente a partir do século XX. Ela acaba por ser parte fundamental na caracterização de uma sociedade.


Afinal, o que o Movimento Modernista brasileiro de 1922 quis apresentar, senão uma maneira de adaptação da arte ao gosto e entendimento do público, sob a revolução de critérios academicistas em algo mais acessível? O próprio Oswald de Andrade e outros autores remetiam seus poemas e prosas a linguagens populares de forma a familiarizar seu texto à fala corriqueira das pessoas, por exemplo. A “antropofagia” de várias culturas sem que se perdesse a identidade brasileira. Ainda um prelúdio à exaltação da cultura que cada país possui e que sua herança deve ser resgatada como uma idéia para se afirmar que todo e qualquer povo é dotado de cultura e que não pode haver restrição da mesma. Uma verdadeira “orgia intelectual”, tal como Mário de Andrade soube caracterizar o ocorrido na Semana de Arte Moderna.

Isso foi apenas uma pequena demonstração de que a intelectualidade tem sido fundida a várias educações artísticas e às suas tradicionais manifestações populares. Ao longo da história, essa idéia foi direcionada: os integrados aderem à revolução como forma de referências culturais, o que contribui assim para o surgimento de arte popular; o apocalíptico recusa qualquer tipo de manifestação que modifique a ordem cultural, uma vez que a ação das massas compromete o caráter culto e íntegro da arte singular.

E o que dizer dos que não simpatizam com a cultura de massa?


O argumento fora muito bem articulado pelos principais teóricos da Escola de Frankfurt, Theodor Adorno e Max Horkheimer, os quais analisaram que os bens dessa herança cultural distribuem um falso entretenimento e que, na verdade, causam alienação de uma realidade superficial, que é de interesse apenas para quem controla tal maquinaria. Em outras palavras, há consequências ideológicas, as quais instrumentalizam ou aprisionam o nosso raciocínio.

“[...] a indústria cultural surge quando a cultura se mercantilizou, através do desenvolvimento tecnológico e da capacidade de reprodução. Os dois autores substituíram a expressão cultura de massa pela de indústria cultural (1978: 287). Para eles, não é uma cultura que surge 'espontaneamente das próprias massas, em suma, da forma contemporânea da arte popular', mas é 'a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores'. [...]” (SANTOS, Rogério. 2005. s/p).

Para eles, a nossa capacidade crítica será apenas movida pelo consumo. Mas esse é um argumento que defende a expressão “Estrutura do mau gosto” utilizada por Umberto Eco a fim de contornar a discussão a respeito das preferências do sujeito. Mas a escolha está ligada à sabedoria do próprio sujeito ou às qualidades do objeto? Como identificar se algo é de bom ou de mau gosto? Tratar a arte como absoluta forma e perfeita dentro das condições clássicas, e estabelecer paradigmas, pode ainda ser um ato preconceituoso, em virtude do caráter heterogênio dessa arte, de seu descentramento. O fato é que a “cultura de massa” sempre será o meio termo entre os dois lados debatidos por Eco e sempre será um discurso aberto, em que surgirão inúmeras interpretações para a Indústria Cultura de massa.

Referências:

-ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 1987;
-SANTOS, Rogério. Blog: Indústrias Culturais. 2005.

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