quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O signo visual na humanidade

Desde o momento em que o ser humano tornou-se capaz de não apenas captar, mas também de sentir os signos à sua volta, ele percebeu que a natureza podia ser uma grande matriz na qual haveria uma transformação de todas as suas percepções; os seus sentidos estariam muito além do que ele enxergava, pois agora eles evoluiriam numa espécie de metamorfose visual para uma perfeita representação do que seria essencial.
Mesmo que toda a análise dos elementos naturais fosse extremamente sugestiva para uma posterior representação, na pré-história ainda as pinturas eram pouco trabalhadas, talvez pelo fato de que também eram utilizadas como uma forma de comunicação entre os homens, mas não como um original instrumento de imitação da realidade ou de adoração aos deuses.
As primeiras mostras ou figuras sintetizadas datam da pré-história, como se sabe, as pinturas Rupestres encontradas nas cavernas, tais como as de Altamira, que caracterizam o período da explosão criativa. Por cem mil anos o homem não produziu imagem alguma, ainda não se fazia entender no processo de evolução, sequer no seu papel de transformação da natureza, mas foi com o tempo que lhe veio a possibilidade de trabalhar o senso criativo a partir da retratação de animais, numa simulação de caça, por exemplo. Essa simulação passou a ganhar sentido espiritual e desde então as figuras eram criadas como parte complementar de uma crença ou culto religioso.
Os acontecimentos e fenômenos possuíam dessa forma um significado, uma vez que se uma determinada cena fosse desenhada, esta já era garantia de ocorrência. Tamanho mistério da criação humana na arte sempre fora muito valorizado e buscado como que uma inquietação, um transe a penetrar no inconsciente e deixar de herança a complexidade da mente dentro do campo das figuras.
Os ancestrais sabiam retratar pontos e linhas – primeiras manifestações a serem desenhadas - em virtude de se poderem imaginar as figuras que fossem construídas por tal método. Muitas vezes eles rabiscavam somente traços sem definição alguma ou montavam um grande esquema em formas pontilhadas, semelhante a algo que viesse a ser decalcado. Esse grupamento outrora fora a mais utilizada das estratégias do homem. Quem possuía tal capacidade era dotado de criatividade para fazer a arte dessa maneira.
Mas, o que realmente estava por trás de toda a criação de imagens?
Uma importante referência que se tem é o Cérebro. A influência do mesmo resulta do armazenamento de todas as “visões” que se teve até o momento e que ficam no subconsciente. É a memória visual, cuja funcionalidade está em permitir que seja estabelecida uma conexão de tudo que possivelmente é visto com os desejos mais transbordantes, pois “a arte continua o trabalho do Cérebro”.
[2]
Sabe-se que as características das representações primitivas, a partir de cultos religiosos, eram a experiência espiritual do transe, a qual levava o indivíduo a encontros alucinantes (como sabemos, sem a existência da fotografia, ou de qualquer meio que retratasse um tipo mais próximo do real, era possível chegar a essa experiência); era uma questão de projeção do Cérebro visual. Isto é, como já foi dito, o ser humano armazena os signos pelos quais estão envoltos, então é possível visualizar, mesmo que de olhos fechados, certas imagens bidimensionais e reproduzi-las.
Levam-se em consideração os padrões mentais, a perda sensorial, o valor emocional e a intensidade do número de alucinações. Feita uma experiência, colocando-se um homem em um local escuro, observou-se que ele constatava padrões em sua mente, como redes de linhas, algo parecido com bolhas de cores bem vibrantes, havia constante abstração e o valor do repertório cultural também era significativo, isso dentro das produções cerebrais.
Dessa forma, a resposta acerca de como os ancestrais faziam suas pinturas, mesmo na escuridão, está nessa complexidade do inconsciente, tendo em vista que o Cérebro humano não muda desde a primeira evolução - a explosão criativa – portanto, o modo de reprodução artístico parte praticamente do mesmo processo, do Cérebro visual.
Diante disso, fica claro que as imagens têm o seu sentido, elas não foram e nem são criadas ao acaso. As imagens não significam uma espécie de acessório apenas, elas fazem parte da mente de forma constante, pois são produtos dela. Desde a “descoberta” da capacidade de fazer imagem, o homem nunca descansou, passando a utilizá-la sempre, em resposta à necessidade de sua produção.
Se não fossem os ancestrais com seu extraordinário sentimento do mundo, suas linhas, cores e pontos, ou mesmo um simples espelho do cotidiano, hoje, toda essa “arte” necessária jamais teria o seu espaço.




[2] Vídeo - O dia em as Figuras nasceram.

Referência:
Vídeo TV Escola - Ensino Médio: Arte / Psicologia / Matemática - Acervo O Dia em que as Figuras nasceram.

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