sexta-feira, 16 de abril de 2010

Memorável Chaplin: o pequeno gradioso

Ao encontrar na fragilidade a façanha do carisma, soube através da pequenez tornar-se grandioso

Um polêmico gênio de sensibilidade aflorada, banhado pela arte do sorrir, do doar-se sem medidas, do ser solidariamente humano com o humano. Esse gênio, poeta das ruas, nasceu num dia de hoje, 16 de Abril! Uma vida que se fez no silêncio visualmente personificado por gestos universais: a figura de um pária. O criador pensante desejou ser o reflexo dos esquecidos, ironicamente através do humor. Humor sofrido.

O criador, Sir Charles Spencer Chaplin, ou simplesmente Chaplin. A criação, Carlitos ou como queiram, Charlie, Charlot, para todos os gostos, tipos, raças e sorrisos. Era este uma solita figura em preto e branco, adornada por um chapéu coco, uma bengalinha de bambu e um terno paupérrimo, apertadíssimo e com calça “balão”. Ah, claro, além de um doce coração de manteiga! Nele, uma energia saltitante, extrovertida, que inesperadamente aparecia em situações atrapalhadas - não se sabe de onde - e ao mesmo tempo tímida, que invadiu telonas do mundo inteiro. A comprovação de toda uma técnica expressiva ainda não vista na época. A imitação de diferentes formas através de um corpinho lânguido. Uma figura diferente.

Assim nasceu o verdadeiro instrumento utilizado por Chaplin para suas críticas e sátiras à desigualdade e à alienação humana. Para ele não havia o que fosse proibido. Era “proibido proibir” os tradicionais chutes nos traseiros daquelas autoridades que o maltratavam - coincidentemente, quase sempre um policial. Sua vida, resumida em filmes. Sua consternação, insurgida de uma infância sofrida, representada pelo cômico. O mistério. Chaplin e Carlitos não eram dois, representavam apenas um. Todos, o imaginário do criador.

No mundo “chapliniano”, uma Inglaterra vitoriana repleta de influência hipócrita a qual o peso de toda autoridade austera se via sobre os pobres, em muito a perfeita diversão dos ingleses. O peso das ricas roupas ornadas, dos rígidos costumes se fazia sentir em suas almas complexas, inebriadas por egoísmo. Para os moradores dos surbúbios londrinos, só restava o enfadonho universo de suas mentes, onde seus sonhos podiam ser verdadeiros. A promessa de uma vida melhor. Sobre esta Inglaterra, há exatos 121 anos, Chaplin nasceu.

Seu espírito de sonhador, mais sensível do que racional, ser-lhe-ia o motor suficiente para sua arte. Alçar voo à desconhecida América lhe seria um desafio e também a vitória sobre a vida reconhecidamente miserável que teve, em termos materiais. Chaplin tão fácil não se abalou com as dificuldades que encontrou em terra estranha: perseguido por seu espírito irrequieto, polemizou a própria vida por suas preferências amorosas - mulheres bem mais jovens -, seus filmes intrigantes - sempre com um profundo caráter político-social -, assim como suas sinceras declarações contra o sistema da época.

A contradição em pessoa. A contradição presenciada no seu estilo de encarar a vida, tal como em suas palavras que apelavam para o eterno sorriso, para que se não deixassem vencer pela tristeza. A contradição presenciada num peculiar humor capaz de retratar o sofrimento de inocentes e a repressão nazista em The Great Dictator. Contradição presenciada até mesmo na história de um assassino em série (Monsieur Verdoux), curiosamente justificada nas palavras da personagem Verdux no momento em que é acusado de seus crimes, o qual afirma que a Guerra foi muito mais cruel do que ele. A Guerra, de fato, foi muito mais atroz do que aquele humor inteligente.

Criador de Carlitos. Criador da maneira simples de sorrir. Criador de outros clássicos como A King in New York, alusão ao colonialismo inglês e uma perfeita resposta aos americanos ingratos, responsáveis por um macarthismo injusto e o seu consequente exílio em 1953. Por essas épocas, a estranha América já não o tentaria sufocar, tampouco afundar a sua arte. Em 1972 voltou o gênio aos Estados Unidos, onde recebeu um Oscar honorífico por sua incalculável contribuição à indústria cinematográfica. Uma boa forma de redenção dos americanos.

Pelo amor e pela esperança, Chaplin guardou em si um brilhantismo de um poeta humanista, por isso é sempre lembrado, mesmo tendo se passado mais de quatro décadas de seu último trabalho no cinema, A Countess from Hong Kong. É lembrado nos detalhes e na simplicidade de fazer a arte acontecer. Uma prova de que o tempo é seu maior aliado, ao contrário do que ele próprio pensava, pois tinha ele medo desse tempo e do terrível esquecimento.

Chaplin, sempre lembrado como poeta da alegria e da dor, e agora pelos seus inesquecíveis 121 anos.

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