sábado, 22 de agosto de 2009

Eis o Laço

À Quartier de la Madeleine.




Eu vi, enxerguei o Laço. Um vínculo que os tornou conscientes de seus sentimentos e plenamente ciosos da realidade dos frutos daquele afeto. Não há espaço para lógicos argumentos ou fatos. Simplesmente… um Laço. Imagem de um Elo. Ele indicia desejos, aquele ensejo de sentir, aquele ato pela potência apaixonada, pela eterna ligação, pelo ser sentido.
De Madeleine, duas criaturas perdidas em realidades inconfundíveis, foi o que vi: a princípio, um viajante sem norte, sem rumo, entregue à escura e mórbida rua parisiense. A perfeita morada do obscurantismo. De almas tomadas pelo medo. Mais adiante, uma alucinação? Ilusão? Talvez a representação de reminiscências que o viajante contemplava, de seu inconsciente desejo pelo novo, algo bem diferente de todo e qualquer signo que já o tenha dinamicamente interpretado. O seu duplo. Súcubu. A imagem da feminilidade vampiresca. Sim, eu vi!
Eram imagens! Mas onde está o real? Até onde vai a minha realidade e a daquelas criaturas? Algo confunde-se na minha mente, posto que já não me está ciente os meus controles perceptíveis. Tornaram uma amálgama do puramente simbólico com o puramente concreto. E agora o medo, que outrora era apenas com o viajante, invade- me. Prelúdio a uma letárgica dor e perda de afeto. O medo inerte aos meus sentidos!
Havia uma grande “alavanca”, ou uma escada. Subia-se por si mesmo, degrau por degrau, conforme a vontade de ascensão ou de eterna dúvida e propensão ao baixo medo do desconhecido. Ah... Figuras estranhas! Sim, havia figuras estranhas, indicadoras de morte (rústicos esqueletos de peixes “fora d’água”, tal como o viajante naquele momento). E na eterna escuridão... o Laço. No centro de uma jornada labiríntica, o jovem, como que desde o início observado, mantinha-se apreensivo. Tudo o que ali houvera sentido ser-lhe-ia consciente e verdadeiramente afetuoso. Esconderijos. Luzes opacas, diluídas ao negro e horripilante frescor de brisa noturna. A criatura vampiresca lá estava em missão. E... um rápido encontro de olhares... O prelúdio à paixão.
À tona, grande emoção. Respiração ofegante. O medo! O que o jovem viajante perceberia: nada além da imagem tão real, já não mais do inconsciente, mas cientemente exterior ao seu olhar. Havia ali os objetos que exteriorizavam uma realidade imagética. Elo e Súcubu. Porém, o que eu senti não passou de sensações, tão somente sensações, perdidas e que a mim não se manifestaram. Sei que vi, mas... mas, a despeito de não me estar em igual situação a do viajante, pude compreender visivelmente aquelas imagens, aqueles ícones, aqueles símbolos de uma maneira menos concreta e até menos absurda que a de outrem.
Qual absurdo! Qual concretude! Uma perfeita constância com o ambiente: seria tão só isso o que o viajante perceberia. Era a sintonia não só dos olhares, mas também do cheiro, talvez odor de um sujeito alheio àquele ambiente, por isso a suposta “rejeição”. A quebra da missão e do instinto da criatura Súcubu. A criatura vampiresca que não ousou sugá-lo! A minha sensação esmoreceria ali? A percepção do jovem viajante estava por definhar?
Lá ainda permanecia o Laço. O querer sentir pelo ser sentido falou mais alto! Mais uma vez a escada. Agora serviu de queda perante o desespero. Ah! Mas nada estava perdido! O que os ligaria ainda lá permanecia, desde o início, em pleno contraste de cores: o medo, a dúvida e a união, a paixão, a vermelhidão da euforia. Atraída, então, pela vivacidade do Laço, Súcubu voltou-se ao viajante... da queda à ascensão, mais uma vez. Esse era o destino daquele jovem. Da morte ao renascer dos sentidos, e destes, à percepção. Potência em ato. Agora, criaturas confundíveis. Alta consumação do afeto.
Quanto a mim, pura alucinação. Isto é o que dele me difere: de minha mente, sentidos apenas. Do viajante, de Madeleine, realidade mental e afetiva.

Link:
http://www.imdb.com/title/tt0401711/ 

3 comentários:

  1. Não sou tão bom com palavras, mas oq posso dizer eh que prendeu, muito, a minha atenção.
    Talvez depressa demais mas já virei fã e, por hora, não queria assinar minhas postagens ^^ mas descobri q não tem como. ¬¬
    Abraço.

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  2. Ambientação parisiense!




    Golpe fortuito. Procurava blogues que tratassem da "flânerie" e atopei este cá, que não trata, mas os termos de busca me trouxeram a ele. Então lembrei-me do endereço do orkut, pois já estive aqui antes da tessitura do destino me arrojar nele.

    AH! A Paula nos apresentou no CHLA, Ufal, há poucos dias. Je m'appelle Pedro Lima. Enchaté.


    Abraços!!!

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  3. Olá, Pedro!
    De fato, não trato especificamente do flânerie, mas se vc refletir, ele pode estar no personagem da cena que retratei. Ele não tem norte, apenas é guiado pelo sentimento, o que o leva a um certo individualismo, enxergando apenas seus impulsos, impulsos de um ser mergulhado na melancolia moderna. Um simples andarilho. Costumo lembrar o personagem Carlitos, de Chaplin, que é fruto daquela “urbanicidade”, de andanças sem rumo algum, e profundamente marcado pela tristeza.

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